A SECA É SOAR DE SINO NO CAMPANÁRIO DA MORTE - CORDEL

Amigo Prata Data de inscrição : 11/07/2009

A SECA É SOAR DE SINO
NOS CAMPANÁRIOS DA MORTE

O sertanejo, sedento,
sobre a seca faz vigília.
Sente a sina da família
só pelo sopro do vento.
Preso ao próprio pensamento,
quer da vida um passaporte
que da miséria os transporte
ao sortilégio sulino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte.

A pele é palha enrugada
igual às crestas do chão.
Os calos de cada mão
colam no cabo da enxada.
A visão de não ver nada
de nuvem no sul ou norte,
tem o sobrosso da sorte
malsinando o seu destino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte.

Casa de barro curtido
pela solama severa.
Triste tipo de tapera
sem posses nem possuído!
Pelo vento destruído,
o teto, de trança forte,
pendeu, perdeu o suporte,
ficou frágil, falho e fino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte.

As paredes carcomidas
desnudam seu desconforto.
Um fogão de fogo morto,
três panelas encardidas,
quatro redes estendidas
pelo chão, sem mais aporte.
Um pote seco. A consorte
cantando reza ao divino.
A seca é soar de sino
nos campanários da morte.

Seis filhos! Ventre bizarro
no corpo de cada um.
Comendo cardo e anum,
bocando bolos de barro,
regurgitando no escarro
o caulim que o corpo corte.
Antes que a vida os aborte,
vinde, Deus do Nordestino!
A seca é soar de sino
nos campanários da morte.

Odir, de passagem

Amigo Prata Data de inscrição : 16/07/2009 Localização : São Paulo

Um mote filosófico (filosofia de uma realidade ainda contemporânea) construído pelo verso magistral do grande Odir!

Aplausos e abraços,
Herculano

Amigo Prata Data de inscrição : 11/07/2009

Novamente vocês ressuscitam um poema meu, esquecido em um canto qualquer deixado por outros cantos maiores. Mas uma vez lhes estendo os braços de abraços, poetas ELAMER NETO e HERCULANO ALENCAR. Odir, agradecido, de passagem.

Amigo Prata Data de inscrição : 10/07/2009 Localização : João Pessoa

O poema estava preso
Sem saber aonde ir,
Até hoje ressurgir,
Me deixando leso e têso,
Só por lê-lo ou por ouvir,
Neste feliz arremesso
E nunca mais eu esqueço,
O poema do Odir.

BRAVO, BRAVO, BRAVO
Primo.
fernando clima.

Amigo Prata Data de inscrição : 11/07/2009

Nobre poeta Fernando,
que bom você me ter lido!
Eu já julgava perdido
o meu canto sem comando.
Mas ao ve-lo agora andando,
volta-me a mesma emoção
da nascença em minha mão
desse canto nordestino!
Redivivo o imagino,
meu poeta e primo-irmão!

Odir, agradecido, de passagem.

Amigo Diamante Data de inscrição : 03/07/2009 Localização : São Paulo - SP

Odir

Querido Poeta e Mestre hoje vim enriquecer meu aprendizado no cordel, maravilha esta tua criação .
Com a minha humilde leitura venho aqui aplaudir esta formosura de cordel.

Os meus aplausos caríssimo!

um beijo de violetas e meu carinho
A SECA É SOAR DE SINO NO CAMPANÁRIO DA MORTE - CORDEL 51

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