Marco Hruschka Amigo Bronze
Data de inscrição : 28/05/2010 Localização : Maringá
| Assunto: Servos Seg maio 31, 2010 12:20 am | |
| Na paragem, um homem bem portado, coluna ereta, olhar soberano, feição séria, fardado e com a mão direita no bolso do casaco tricolor espera a condução. Lentamente, aproxima-se outro homem, aparentemente maltrapilho, vestindo apenas uma túnica comprida de cor clara e sandálias. Possui barba e bigode compridos. O recém-chegado avista o oficial com olhos curiosos mas ao mesmo tempo receosos. Ao perceber que está sendo analisado, o cidadão de roupa nobre indaga:
- Que queres tu?
Após um breve silêncio reflexivo, ouve-se a resposta-investigadora:
- Quem tu és?
- Mas que disparate, como ousas tratar-me por tu? Indigente!
- Perdão, expressou-se, sem entender muito bem, o “mal vestido”.
- Isso mesmo que ouviste, sabes com quem falas?
- Não, foi exatamente o que lhe perguntei.
- Ora essa, estás a falar com Napoleão Bonaparte, comandante das tropas francesas que conquistaram a Europa.
Silêncio.
Um franzir de testa foi inevitável ao ancião. Admirou-se? Assustou-se? Será que teve medo ou rir-se-ia? E se realmente fosse quem tivera dito?
Refletiu sobre aquelas palavras e respondeu:
- Desculpe-me o abuso, mas, se tendes a Europa para vós, o que fazeis aqui, na paragem? Para onde irdes?
Sem perder a postura, levanta levemente o queixo e responde:
- Vou para a Lua!
A atmosfera toda se fazia confusa com aquela conversa, e o cidadão, curioso talvez, indaga-lhe novamente:
- Mas, enfim, o que desejais na Lua?
- Olho-a todas as noites e é como se ela me convidasse a conquistá-la, conquistá-la-ei, pois! Disse-lhe com a resposta na ponta da língua o utopista. Seria utopia?
- Mas chega de conversa fiada, quem pensas que és para querer saber de meus planos futuros? Inquiriu, quase que irado, o oficial.
- Chamam-me Sócrates, o sábio, mas prefiro ser somente Sócrates.
- Ah, Sócrates, o sábio, não é?! E o que sabes que eu não sei?
- Só sei que nada sei!
- Brincas comigo, intrépido?
- Não, não sou de muitas brincadeiras, mas digo-lhe a verdade.
O ambiente, por segundos, tornou-se taciturno. Os dois se entreolhavam sem se conhecerem, sem medo nem audácia. Enfim, para cortar aquele silêncio que incomodava a autoridade ali presente, esse perguntou:
- E tu, o que fazes aqui, para onde vais?
- Vou ao encontro de mim mesmo, responde o grisalho com um leve sorriso de complacência.
- Deveras me achas um ignorante! Explica-te ou mando prender-te!
- Não há motivo para tanta raiva, serei mais claro. Viajarei para dentro do meu “eu”, em busca de minha verdade.
- E achas realmente que passará uma condução cujo destino é “eu”?
- Com todo o respeito, não me entendes. Posso conseguir o que quero aqui mesmo, logo adiante, ou, sempre de modo mais rápido, em contato com a natureza, com a solidão de si próprio, basta uma revelação, a epifania, para que possamos entender o porquê de estarmos aqui e agora.
- Não me importam essas coisas, para mim, o que vale é liderar amparado em estratégias, conquistar, expandir o império.
- E a virtude?
- A virtude está no ato de vencer e ser admirado...
Sem ser percebido, aproxima-se um homem de aparência velha e respeitável e diz-lhes, pegando-os de surpresa:
- Tolos! Em verdade, em verdade vos digo: Nem um nem outro está livre do meu domínio, sois apenas instrumentos de minha vitória.
Aquele que mantinha a mão no bolso até então, indignado, pergunta-lhe logo:
- És quem, ó atrevido?
- Bento, João, Pedro, Clemente, Paulo, tenho vários nomes, escolham um, não importa. O que importa é que do meu trono dourado conquistarei o mundo. Nem o teu batalhão, que por sinal é mais meu do que teu, e nem a tua filosofia, nem aquele cidadão de aspecto oriental que trabalha ali, sem cessar, sem ser visto, ninguém poderá mudar o rumo do que é predestinado desde os primórdios. Meu reinado não é efêmero, é eterno. Sigam-me e os perdoarei.
E a alma do pequeno Estado jubilava... desde os primórdios.
Última edição por Marco Hruschka em Qua Jun 09, 2010 4:03 am, editado 1 vez(es) | |
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Marli Franco Amigo Diamante
Data de inscrição : 03/07/2009 Localização : São Paulo - SP
| Assunto: Re: Servos Seg maio 31, 2010 1:43 am | |
| Marco Maravilhoso texto Poeta , carregado de sabedoria .Uma reflexão existencial abrangente,o foco nas virtudes se faz presente e eleva a mente em rumos do aprimoramento da evolução. Apreciei muito ler tua criação caro Poeta,os meus aplausos. um beijo de violetas e meu carinho | |
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