Marco Hruschka Amigo Bronze
Data de inscrição : 28/05/2010 Localização : Maringá
| Assunto: Aquário de delícias Ter Jun 01, 2010 4:09 am | |
| Como me agrada o movimento vertical da chuva. Por vezes, não tão nesse sentido, mas diagonal, levada pelo vento. À janela, posso sentir tocar-me a face quando oblíqua. A água... milagre divino, pureza magistral, como é bom tê-la em abundância! O pluvial me presenteia a alma com leveza. Sinto-me, como um vivente de outra encarnação, um ser aquático, usufruindo deleitosamente da vastidão silenciosa do oceano. Agridoce ilusão. Há o mel do sonho e o amargo da realidade. Crio existências dentro de meu coração as quais fantasio vivê-las. Nelas, não haveria paradoxos sentimentais, oscilações psicológicas, apenas o neutro, um neutro levemente prazeroso e eterno.
Um novo quadro se descortina, a brisa mansa toma conta da atmosfera, o céu no azul tipicamente dominical, a paisagem repleta de lagos com água cristalina onde os pássaros se harmonizam com os peixes e com os homens. Há um alimento perfeito, completo e eterno em comum às espécies: a ambrosia celeste. Voltamos à idade de Ouro. Tudo é preservado e repartido igualitariamente. A Água predomina como rainha soberana.
Banhamo-nos nas cachoeiras em meio à relva oculta. Relacionamo-nos com tudo e com todos, sem egoísmos, sem ciúmes, sem invejas, sem preconceitos. Caminhamos pelos vales, observamos os ribeirões repletos de preciosidades, escutamos o silêncio natural das coisas. O lema de minha tribo: “Sorria com a alma e a natureza o recompensará”. Não há sequer a hierarquia Olímpica de outrora. As noites, convidativas. Celebramos a vida, a saúde, a união das raças de todas as sortes. A Natureza evolui junto ao novo Homem. A Vida tem a transparência e a sobriedade de um aquário. Regozijo...
A chuva cessou. Assustei-me com uma porta que bateu com o vento e, de sobre-salto, afastei-me da janela, ensopado da cintura para cima. A água caída do céu expurgara-me os pensamentos e o orbe sonhado. Senti profundamente estar ali, naquilo que existe de verdade. O suco de Deus, ao mesmo tempo em que trouxe, levou consigo todas as minhas esperanças de continuar em mim mesmo. Definho ao pensar que não poderei usufruir, nos cinco sentidos, de toda a amplidão da natureza virgem, noiva casta e cândida que me seduz com rios de mel e montanhas de dádivas. Não há solução. A fuga no sonho é irrealizável, acaba-se ao abrir dos olhos. Despeço-me, subterfugir-me-ei àquela cujo abraço é mortal, cuja casa é fria e eternal, cujo cântico troante soa-me madrigal, que o caminho seja o Nilo ou o Senegal.
Última edição por Marco Hruschka em Qua Jun 09, 2010 4:03 am, editado 1 vez(es) | |
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Marli Franco Amigo Diamante
Data de inscrição : 03/07/2009 Localização : São Paulo - SP
| Assunto: Re: Aquário de delícias Qui Jun 03, 2010 9:57 am | |
| Marco Querido Poeta um rico conto,com belíssimas imagens prende atenção do começo ao final. Precioso talento! um beijo de violetas e meu carinho | |
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