herculano alencar Amigo Prata
Data de inscrição : 16/07/2009 Localização : São Paulo
| Assunto: O jegue misterioso Qua Dez 23, 2009 2:57 am | |
| O jegue misteriosoHerculano Alencar Todo dia de noitinha nas banda de Jaicó, se assunta a ladainha do coveiro, Seu Jacó, arrelatando um gemido, tão triste, tão dilurido, que inté o diabo tem dó. __É coisa de dá arrepio na alma de um cristão. O cabra morre de frio mesmo no alto verão. Molha as calça de suó ou uma coisa mais pió, bota peso no calção. __É pió que assombração quande a lua tá minguante, mais pió de que sermão de pade muito falante; e mais pió, meu amigo, de que fleimão no imbigo e chifre de mau amante. Dá seguimento na estória cum a fala de coveiro: __Dou a mão à palmatória dou cem conto em dinheiro, prá qualqué cabra da peste de norte-sul, leste-oeste, que quizé sê o primeiro cabra macho e distemido, que em noite de pouca lua, quande sol tivé sumido, nenhum vivente na rua, entrá nesse cemitério e discobrí o mistério, e cuma é que ele atua. Em não havendo resposta, levantei a valentia: __Tá aceita a sua aposta, pois marque a hora e o dia, que este cabra que vos fala vai tá de cuia e de mala junto a Vossa Senhoria. E declinei o meu nome que é pra niguém duvidá, acrescido o sobre-nome: __Herculano de Alencá. Parido de Margarida, minha mãe, a mais querida, que alguém jamais pôde amá. Por pai, o Seu Segisnando, que atende por véio Sisa, que inda tá no comando ajudando a quem precisa. Logo ao sê aposentado, me enviou um recado, que tá vivendo de brisa. Dia e hora marcada, cuma é dos compromisso, metí os pé na estrada, discreto e sem rebuliço; cheguei inda madrugada c'as roupa toda suada, benzida por padim Ciço. Me apresentei pro coveiro: __Seu Jacó ói eu aqui! Vá preparando o dinheiro, pois cabra do Piuaí num foge de lobisome, nem é de passá vexame pro mode de um Saci. O coveiro deu risada com seu dente de marfim! sua bôca escancarada tinha bafo tão ruím, que até já era assunto: "Seu Jacó come defunto como quem come pudim". Marchemo pro cimitério, Jacó na frente, eu atrás. Ele cuspindo impropério, maldizia o satanás e a mula sem cabeça, e tudo o mais que pareça com os vivente infernais. Era quase luz da lua quande chegamo ao destino; poucos vivente na rua: Dois cachorro e um felino. Atravessemo o portão, foi quande o meu coração reclamou dos intestino. Um vento frio de morte bateu por riba de mim, vindo do sul para o norte cortando os mói de capim. Me arrepiô os cabelo e todo o resto dos pêlo, inté as pedra do rim. Foi quande ouví um grunido cortando as iscuridão, mais forte do que um latido, mais fraco do que um truvão, de fazê borrá as calça, dançá frevo que nem valsa e valsa que nem baião. Procurei por Seu jacó, que bateu em retirada que nem cachorro cotó dispois da calda cortada. Do danado do coveiro, nunca mais sentí o cheiro e nem ouvi a risada. E me largô lá sozinho em completa solidão, rodeado de vizinho habitante de caixão. Se pego o cabra da peste, vai sê mais um cafegeste que ia perdê os cunhão. Mas cabra do Piauí num intrega a rapadura, é de matá sucurí e mostrá as dentadura. Vou cumprí meu desafio, desde ofio a pavío, num vai sobrá sepultura. E assim foi dito e feito: Seguindo a intuição, afinquei o pé direito e botei o cu na mão, só pra mantê garantia, que com tanta valentia num ía cagá no chão. Me embrenhei pelas mata sempre de orêia em pé. Ouvi zuada de pata de bicho de quatro pé por detrás de um arbusto. Refeito, dispois do susto, fui expiá o que é. Acredite meu cumpade, num sô cabra de invenção. Já vi batina de pade correndo de assombração. Mas eu nunca ví na vida, visage tão parecida com sacanage do cão: Era um jegue adurmecido, que tirava uma soneca do lado dum falecido, cunhecido por Seu Zeca; O Seu Zeca do jumento. Um cabra tão avarento, que tinha pau na munheca. Foi a chave do mistério que eu dei conhecimento. Pode levá tudo à sério, nem precisa documento. O gemido doloroso, do causo misterioso, era o ronco dum jumento! | |
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